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100 anos sem Durkheim. 100 anos com Durkheim

One century without Durkheim. One century with Durkheim

Resumo

O centenário da morte de um autor é uma ocasião que convida à reflexão sobre o sentido e as consequências de seu legado. Neste texto, procuramos pontuar alguns elementos biográficos de Émile Durkheim (1858-1917), que ajudam a situá-lo em seu contexto original e, sobretudo, delinear alguns dos principais aspectos que caracterizam sua recepção nas ciências sociais no decorrer dos últimos cem anos. O argumento que apresentamos aqui é que há, pelo menos, três tipos de apropriações: Durkheim do senso comum sociológico, Durkheim dos durkheimianos e Durkheim interlocutor das teorias sociais. Ao mesmo tempo, apontamos como os seis textos que integram o presente dossiê dão testemunho dessa diversidade de leituras possíveis, bem como da vivacidade da presença de Durkheim nas ciências sociais contemporâneas. Esperamos que este seja um convite a uma compreensão crítica e complexa da história da nossa própria disciplina.

Palavras-chave:
Ciências sociais; Teoria sociológica; Estudos durkheimianos

Abstract

The centennial of an author's death invites to reflect on the meaning and consequences of his/her legacy. In this text, we seek to present some elements of Émile Durkheim's (1858-1917) biography, which help to situate this author in his original context, and especially some of the main aspects that characterize his reception in the social sciences over the last hundred years. We argue that there are at least three kinds of appropriations: Durkheim of the sociological common sense, Durkheim of the Durkheimians, and Durkheim interlocutor of social theories. At the same time, we point out how the six articles that constitute this dossier illustrate such diversity of possible readings, and demonstrate the liveliness of Durkheim's presence in the contemporary social sciences. We hope this to be an invitation to a critical and complex understanding of the history of our own discipline.

Keywords:
Social sciences; Sociological theory; Durkheimian studies.

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Um século nos separa daquele 15 de novembro de 1917, dia do ocaso de Émile Durkheim. Um desaparecimento súbito, suscitado pelas agruras da Primeira Guerra Mundial, a qual o privou, dia após dia, de muitos de seus amigos, de seus colaboradores e, em especial, de seu filho André1 1 A causa exata da morte de Durkheim permanece desconhecida; no entanto, para uma discussão detalhada sobre as circunstâncias que a envolvem e as várias explicações aventadas, veja-se o artigo de William Pickering (2008) a este respeito. . Quiseram seus contemporâneos e sucedâneos, contudo, que seus escritos e ideias sobrevivessem àquele outono europeu. Nada há aí de evidente ou de absolutamente coerente. Nem o destino de uma pessoa, nem aquele de uma obra o são. Deve-se enfatizar a complexidade das questões aí envolvidas. Não é outra a razão que nos move, em mais um dossiê dedicado ao sociólogo francês, a evocar elementos de sua trajetória profissional e das linhas mestras que guiaram a fortuna crítica de sua obra.

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Para um leitor atual, formado em um sistema de ensino e pesquisa muito diferente daquele que conheceu Durkheim, importa destacar que esse autor é, em muitos sentidos, um representante típico da geração de franceses que consolidou uma decisiva guinada na produção científica de seu país. Nascido em Épinal, no nordeste da França, em 1858, ele vivenciou muito moço a derrota militar de seu país imposta pela Prússia (1870), bem como a subsequente reforma do sistema de ensino por ela catalisada. Com efeito, buscando contrapontos e referências na Inglaterra e em uma Alemanha em processo de unificação, muitos da geração dos mestres de Durkheim trabalharam para incutir no sistema de ensino secundário os valores da cidadania republicana, bem como buscaram transformar a universidade em centro produtor e difusor de pensamento científico. Coube à sua geração aprofundar essas iniciativas, o que se percebe tanto na valorização de títulos universitários e de publicações, quanto no encorajamento dado às especializações; afinal, ainda que existissem tensões em torno de cada um desses rótulos, consolidam-se então como disciplinas universitárias a psicologia, a geografia, a sociologia, a antropologia, etc.

Durkheim esteve bem situado para tomar parte nesse movimento. Ele se graduou na Escola Normal Superior, instituição que forma até hoje parte significativa das elites políticas, literárias e científicas da França. Isso lhe garantiu tanto o contato com a fina flor dos estudantes franceses, bem como lhe forneceu excelentes condições para preparar-se para o concurso de agregação de filosofia (1882). Com sua aprovação, aliás, tem início sua carreira de professor, interrompida durante o período em que esteve na Alemanha, primeiramente em Leipzig, onde estagiou junto ao laboratório de psicologia experimental dirigido por Wilhelm Wundt, depois em Marburg e Berlin. Como não se fazia ainda pesquisa em ciências humanas, era preciso enviar jovens professores para aprender in loco os procedimentos de produção e difusão dos novos conhecimentos. Como resultado dessa experiência no exterior, o jovem professor publicou dois importantes artigos (Durkheim, 1887b; a) que lhe trouxeram notoriedade, e sob os auspícios de membros do governo, Durkheim iniciou seu magistério no ensino superior na Faculdade de Letras de Bordeaux (1887). Lá ele permaneceu até sua ida a Paris (1902), quando assumiu uma cadeira na Sorbonne, instituição à qual permaneceu vinculado até o fim de sua vida.

Tal narrativa - passagem pela Escola Normal, agregação, experiências no exterior e sucessão de postos até chegar a Paris - bem poderia caracterizar a trajetória de muitos de seus contemporâneos, tais como o historiador Camille Jullian (1859-1933) e o geógrafo Paul Vidal de La Blache (1845-1918). Mas o que torna Durkheim singular, antes de tudo, é sua adesão ao terreno das ciências sociais em termos de carreira profissional, articulando ensino e pesquisa. Com efeito, desde a Revolução Francesa, o grosso da produção nessa área foi feita fora da universidade, em salões científico-literários ou em algum gabinete mais ou menos recôndito do aparelho estatal (Heilbron, 200629 HEILBRON, J. La Naissance de la Sociologie. Marselha: Agone, 2006.). Gabriel Tarde (1843-1904), Gustave Le Bon (1841-1931) e René Worms (1869-1926) são exemplos da persistência dessa tradição no início do século XX. Quando ensinam em instituições centrais, se chegam a fazê-lo, é por curtos períodos e apenas ocasionalmente, como foi o caso de Tarde. Quando detêm as novas credenciais universitárias, como é o caso de Worms, não as mobilizam para seguir uma carreira em instituições oficiais de ensino. O único caso similar ao de Durkheim é justamente o de seu colega mais velho, também ele vindo da Escola Normal Superior, Alfred Espinas (1844-1922).

O que torna Durkheim ainda mais singular, mesmo diante de Espinas, é a inédita construção de um grupo coeso de universitários em torno de uma proposta igualmente coesa de sociologia. Havia aí, por certo, o amor à ciência e uma estratégia, mais ou menos coerente em cada caso, de seguir carreira universitária. Mas havia também, e talvez sobretudo, laços afetivos, políticos e intelectuais outros. Por exemplo, Marcel Mauss (1872-1950) era seu sobrinho, e Durkheim recebeu a incumbência familiar de formá-lo. Havia os amigos e estudantes de Mauss. Havia os companheiros de trincheira por ocasião do Caso Dreyfus2 2 Para uma discussão detalhada acerca da atuação de Durkheim no caso Dreyfus veja-se o Volume 1 da Coleção Biblioteca Durkheimiana (Durkheim, 2016) , que os uniu todos na defesa dos Direitos do Indivíduo e do Cidadão diante do antissemitismo e da Razão de Estado sem limites. Havia ainda o apoio, indireto no caso de Durkheim, mas muito intenso para vários de seus colaboradores, à constituição de uma sociedade mais justa através do engajamento cooperativista e socialista3 3 Ver Mucchielli, 1998 e, para um resumo em português desta obra, Mucchielli, 2001. .

E há mais: essa proposta foi construída coletivamente, através do que podemos considerar um "laboratório impresso", a revista L'Année Sociologique, bem como de outras iniciativas institucionais e pessoais4 4 Não há como separar a história das ciências sociais na França de empreendimentos institucionais como o Institut Français d'Anthropologie e o Institut d`Ethnologie, e revistas como a Revue Philosophique e a Revue de Psychologie. Para uma visão abrangente, veja-se os trabalhos de Cristophe Charle (2012, 2013) e de Karady (1988). . Durkheim foi um encorajador, um emblema do grupo, influenciando seus membros, mas também sendo influenciado por seus colegas. Não é possível, nesse sentido, falar do sociólogo francês como alguém que atuou sozinho, autor de uma obra autocentrada. Como afirma Marcel Fournier na última biografia escrita sobre o autor (200726 FOURNIER, M. Émile Durkheim. Paris: Fayard, 2007.), só é possível falar de Durkheim via análise prosopográfica - e seria diferente com qualquer outro autor?

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No decorrer desses cem anos que nos separam da morte de Durkheim, o legado de sua obra percorreu estradas bastante diversas, que dificilmente podem ser resumidas em espaço tão breve. Porém, aqui cabe ter em mente a ideia de Wirkungsgeschichte, cunhada por Hans Georg Gadamer, que pode ser traduzida como "história dos efeitos", ou "história da recepção", que convida a um diálogo com as muitas leituras feitas sobre uma obra ao longo tempo, e aponta para um fato bastante óbvio, mas nem sempre tomado em consideração: as obras realmente importantes na história do pensamento adquirem vida nova pelos olhos de seus intérpretes.

Portanto, ao evocar o nome de Durkheim cem anos depois, e a partir de outro continente, há que se levar em conta que essa distância é preenchida por leituras, escritas e expectativas, o que faz com que cada leitor associe a ele um conjunto de atributos certamente bastante diversos, que despertam maior ou menor simpatia, maior ou menor interesse. Em nosso país, a presença desse autor vem de longa data, e conheceu momentos bastante diversos - que vão desde a primeira recepção crítica, ainda no começo do século XX, com o jurista Paulo Egídio Carvalho (190010 CARVALHO, P.E de O. Estudos de sociologia criminal: do conceito geral do crime segundo o método contemporâneo (a propósito da teoria de E. Durkheim). São Paulo. Tipografia e Edição da Casa Eclética, 1900.), passando pela incorporação no âmbito da educação, sobretudo com Fernando de Azevedo (19404 AZEVEDO, F. de. Sociologia Educacional. São Paulo: CEN, 1940.) e na obra inicial de Florestan Fernandes (196323 FERNANDES, F. Organização social dos Tupinambá. São Paulo: DIFEL, 2ª ed. Revista e ampliada, 1963., 1967, 1970), pela fase de significativo declínio, entre as décadas de 1970 e 1990, até o início de uma área de estudos durkheimianos propriamente dita, que tem início nos anos 20005 5 Para uma análise da trajetória de Durkheim no Brasil, desde a década de 1900 até o presente, veja-se o artigo de Márcio de Oliveira e Raquel Weiss (no prelo), "La trajectoire de l'œuvre durkheimienne au Brésil", no dossier sobre os 100 anos do autor, organizado por Serge Paugam na Revue Sociologies). .

Aliás, a própria existência de um "dossiê" que tematiza esse centenário já é, em si mesma, fato carregado de pressupostos: no mínimo, significa que esse autor não desapareceu por completo de nossa memória coletiva, para usar a expressão de um de seus colaboradores, Maurice Halbwachs (199727 HALBWACHS, M. La Mémoire Collective. Editado por Gerard Namer. Paris: Albin Michel, 1997.). Por mais controversa e errática que tenha sido essa história dos efeitos, de sua recepção, podemos afirmar que se trata ainda de um autor presente no imaginário sociológico. Tecer considerações sobre isso é, portanto, alinhavar alguns pontos que indicam elementos importantes da história da própria sociologia.

De forma bastante esquemática, correndo o risco de uma excessiva simplificação, podemos dizer que existe 1) um Durkheim das pré-noções sociológicas; 2) um Durkheim dos durkheimianos; 3) um Durkheim interlocutor das teorias sociais. Em cada uma dessas formas de apropriação, encontramos uma complexa miríade de significados e de explicações que se entrelaçam ora mais, ora menos, fornecendo elementos para a leitura de estudantes e pesquisadores que constroem cada qual sua própria imagem sobre o autor em questão.

As pré-noções sociológicas fazem eco ao que William Watts Miller (200936 MILLER, W.W. Investigando o projeto de Durkheim para a constituição de uma Ciência Social. Durkheim: 150 Anos. São Paulo: Argvumentvn, p. 39-68, 2009.) chama de Durkheim mitológico, que agrupa as muitas apresentações do autor que reproduzem leituras e interpretações apressadas, prescindindo da leitura cuidadosa do texto. O que há em comum aqui é a tendência a pinçar conceitos desvinculados do conjunto da teoria, propagando argumentos e epítetos que dizem pouco sobre o sentido real do que pretendera o autor. O próprio estatuto de clássico, em si mesmo uma construção historicamente datada, contribui para esse movimento, na medida em que coloca esse autor como referência incontornável para a formação na área de ciências sociais, sem a necessária contrapartida de apontar sua pertinência.

Ainda que com algum grau de imprecisão, é possível afirmar que, dentre os autores alçados ao Panteão dos clássicos da sociologia, Durkheim tem sido, não só no Brasil, aquele que mais sofre com as deformações das leituras. Esse autor tem sido reiteradamente apresentado como conservador, teórico da ordem ou coisa que o valha, o que já se configura como recorte a partir do qual se leem seus textos - ou as interpretações de seus textos. No geral, podemos afirmar que essas pré-noções são muito encontradas, ainda, em manuais de sociologia, livros de introdução, e mesmo entre alguns textos especializados que, por uma razão ou outra, optaram por interpretações teóricas que retiram o autor de seu contexto histórico, atribuindo sentidos apressados a seus conceitos e ideias.

O principal contraponto a essas imagens reificadas tem sido o que podemos chamar de "estudos durkheimianos", constituído pelo trabalho de pesquisadores e pesquisadoras que tomam Durkheim e sua obra como objeto de investigação. Inicialmente, Durkheim permaneceu vivo entre seus colaboradores, os mesmos que o haviam tanto influenciado ao longo de sua vida6 6 O que não significa, bem entendido, que não tenha havido alterações estruturais no lugar da sociologia. Cf. Heilbron, 1985 . Maurice Halbwachs (1877-1945), Louis Gernet (1882-1962), os já citados Mauss e Simiand, entre tantos outros, foram cruciais para manter seu nome circulando nos anos 1920 e 1930, seja através de seus próprios trabalhos, seja através da publicação de grande parte da obra hoje associada a Durkheim (Bouglé; Durkheim, 19249 BOUGLÉ, C.; DURKHEIM, É. Sociologie et Philosophie. Paris: Félix Alcan, 1924.; Durkheim, 1920; Durkheim, 1922; Durkheim; Cuvillier, 1955; Durkheim; Fauconnet, 1925, 1938; Durkheim; Mauss, 1928).

Mas, para além de alguns trabalhos significativos sobre a sociologia durkheimiana produzidos nas décadas subsequentes à sua morte, foi somente a partir dos anos 1970 que começamos a assistir ao início de uma produção um pouco mais sistemática voltada a compreender quem foi o autor, enquanto sujeito histórico, e a investigar a lógica interna de sua teoria. Alguns "marcos" desse movimento foram a publicação da biografia de Steven Lukes - a partir de sua tese de doutorado realizada na Universidade de Oxford, no final da década de 1960 -, a publicação da Coletânea Textes, editada por Victor Karady, reunindo importantes textos do autor que haviam ficado desconhecidos do público e que ofereceram subsídios importantes para compreender o sentido de seu projeto; bem como o trabalho coletivo capitaneado por Philippe Besnard, do qual resultou, por exemplo, a publicação de textos inéditos de Durkheim em dois volumes da Revue Française de Sociologie (Besnard, 1976a; 1976b; 1979).

Ao lado de William Pickering, Besnard também foi figura central na fundação do British Centre for Durkheimian Studies, em 1991 e com o qual colaborou até o ano de sua morte, em 2003. Sediado na Universidade de Oxford, e dirigido por William Pickering até seu falecimento em maio de 2016, esse centro representou o primeiro espaço institucional que permitiu estabelecer uma "comunidade de saber" entre pesquisadores de diferentes países que se dedicavam a levantar dados históricos e biográficos relacionados ao autor, ou a destrinchar e interpretar aspectos específicos de sua obra, como a política, a moral, a religião, a epistemologia e a metodologia. Outro foco institucional que tem impulsionado a produção de estudos sobre é o periódico Durkheimian Studies/Études durkheimiennes, editado por Robert Allun Jones, da Universidade de Chicago, entre os anos de 1988 e 1995, e que, a partir de 1996, passou aos cuidados do British Centre, tendo William Watts Miller como editor. Em 2016, a Revista passou a ter como editores Matthieu Béra, Stéphane Bachiocci e Jean-Cristophe Marcel.

Mais recentemente, na França, voltou a surgir um processo de institucionalização de estudos sobre Durkheim, com a criação da Sociedade dos Estudos Durkheimianos, sediada em Paris, em colaboração com a Universidade de Chicago e coordenada por Philippe Steiner, e o Grupo de Estudos sobre Durkheim de Bourdeaux, coordenado por Matthieu Bèra. Finalmente, também entre os grupos mais recentes, há o Laboratório de Estudos Durkheimianos da Universidade do Quebec a Montreal, e a Rede de Estudos Durkheimianos, vinculada à Sociedade Canadense de Sociologia, e o Centro Brasileiro de Estudos Durkheimianos, sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em resumo, há cerca de quatro décadas tem se desenvolvido um corpus de investigações que procuram construir uma narrativa acerca da obra durkheimiana voltada à compreensão do sentido original de sua produção, permitindo apreender a complexidade de temas e ideias que no geral descontroem as interpretações mais superficiais que caracterizam o "Durkheim mitológico"7 7 Os trabalhos aqui são muito numerosos, mas cabe indicar alguns dos que enfrentam mais diretamente essa questão da reconstrução da imagem do autor: Alexander, 1990; Alexander; Smith, 2005; Besnard, 1976a, 1976b, 1981; Jones, 2001; Lukes, 1973; Miller, 1996; Pickering, 2002, 2009; Rosati; Santambrogio; Alexander, 2002; Steiner, 2005. . A nova biografia publicada por Marcel Fournier (200726 FOURNIER, M. Émile Durkheim. Paris: Fayard, 2007.) e uma série de descobertas de documentos como manuscritos, cartas, etc., bem como a produção de trabalhos que situam o autor no contexto social e no debate intelectual de sua época têm exercido uma função crucial para preencher lacunas. Mais que isso, ela tem servido para "humanizar" o autor, desvelando disputas políticas, desafios institucionais, etc., o que nos permite um olhar menos idealizado acerca dos mitos de origem de nossa disciplina.

No caso do Brasil, mencionamos o trabalho em torno do Centro Brasileiro de Estudos Durkheimianos, o qual busca congregar os pesquisadores nacionais interessados no tema. Para além de eventos, este espaço tem se notabilizado pela publicação de uma Biblioteca Durkheimiana, coleção editada pela Editora da Universidade de São Paulo e dirigida por Raquel Weiss e Rafael Faraco Benthien. Com ela, quer-se ampliar nosso entendimento dos trabalhos de Durkheim e do grupo de especialistas constituído ao seu redor através da publicação de textos esgotados, pouco conhecidos ou inéditos no Brasil. As edições, todas bilíngues, ainda apresentam uma série de anexos e um estudo crítico do original francês, com notas explicativas e indicações das alterações na fatura do texto principal produzidas ao longo da vida de seu autor (Durkheim, 2016; Hubert, 201630 HUBERT, H. Estudo Sumário Sobre a Representação do Tempo na Religião e na Magia. Edição bilíngue e crítica organizada por Rafael Faraco Benthien, Miguel Soares Palmeira e Rodrigo Turin. São Paulo: Edusp (Coleção Biblioteca Durkheimiana), 2016. e Meillet, 201634 MEILLET, A. Como as Palavras Mudam de Sentido. Edição bilíngue e crítica organizada por Rafael Faraco Benthien e Miguel Soares Palmeira. São Paulo: Edusp (Coleção Biblioteca Durkheimiana), 2016.).

O presente dossiê corresponde a mais um esforço do Centro de Estudos Brasileiro no sentido da profissionalização dos debates em torno da história e da teoria da sociologia durkheimiana. Os três primeiro textos que o compõem apresentam abordagens - bastante distintas entre si - que têm como eixo central o último livro que Durkheim publicou em vida, As Formas Elementares da Vida Religiosa (191215 DURKHEIM, É. Les Formes Élémentaires de la Vie Religieuse. Paris: Alcan, 1912..), e que tem sido considerada a obra mais relevante do autor no debate contemporâneo.

O primeiro artigo é de autoria de Edward Tiryakian, que foi aluno de Talcott Parsons e tornou-se um dos mais notáveis pesquisadores na área de teoria sociológica e de sociologia da religião e das civilizações. Em sua trajetória, a obra de Durkheim, ao lado da de Max Weber, tem sido referência central em seus trabalhos. No texto aqui publicado, Tiryakian apresenta uma densa análise de As Formas Elementares, recuperando o contexto que envolvia a Europa quando de sua publicação, no ano de 1912, que o autor chama de annus mirabilis, no qual o árido racionalismo iluminista começava a perder seu monopólio como força motriz da história. No decorrer do texto, Tiryakain situa o conceito de efervescência como o mais importante do livro em questão, e chama a atenção para a importância atribuída por Durkheim ao papel desempenhado pelos rituais na vida dos indivíduos, e que seriam as contribuições mais importantes desse autor para uma compreensão mais profunda das sociedades ocidentais contemporâneas, nas quais o egoísmo excessivo têm produzido patologias que trazem sofrimento aos próprios indivíduos.

José Benevides Queiroz, autor do segundo artigo, tem oferecido importantes contribuições para os estudos durkheimianos no Brasil, com a publicação de artigos e mesmo com traduções de textos inéditos de Durkheim. No texto que compõe este dossiê, Queiroz realiza uma leitura interna da obra durkheimiana, em um diálogo com diversos de seus intérpretes, de modo a formular uma análise própria a respeito de qual "lugar" este livro ocupa na trajetória do sociólogo francês. Entre os estudiosos de Durkheim, existe um debate que pode ser resumido no par continuidade versus ruptura, e que é importante para o estabelecimento da existência ou não de um percurso coerente, e que impacta, inclusive, o sentido da leitura atribuída a diferentes conceitos e argumentos do autor.

Trata-se de uma importante revisão que toma como eixo analítico o conceito de religião, que permite ao autor enunciar a tese acerca de uma transformação sem ruptura. Isto é, não se trata de apontar, como defendera Parsons (1937), que As Formas Elementares representam uma guinada idealista em uma obra outrora marcada por outras duas fases precedentes, uma delas materialista, e a outra marcada por elementos de uma teoria da ação. Ao contrário, Queiroz aponta que, nesse livro, encontramos uma problematização mais complexa do fenômeno religioso, mas que depende de premissas teóricas e metodológicas estabelecidas anteriormente e que, ao mesmo tempo, oferece respostas a perguntas que permaneceram em aberto nos trabalhos precedentes.

O terceiro texto do dossiê, que também pode ser considerado como parte desses "estudos durkheimianos", é um importante trabalho na área de estudo sobre a recepção do autor. Nele, François Pizarro-Noël, atualmente professor da Université du Québec à Montreal e fundador do Laboratoire d`Études Durkheimiennes, temos ocasião de entender a leitura de As Formas Elementares da Vida Religiosa realizada por dois dos mais influentes sociólogos norte-americanos, Talcott Parsons e Jeffrey Alexander - este, autor do último artigo apresentado aqui, sobre o qual falaremos mais adiante. O que o autor nos mostra é como ambos, partindo de referências semelhantes, apropriam-se de modo muito diverso do livro em questão e, não obstante, produzem uma obra original com significativas afinidades eletivas. Ao percorrer os argumentos de Pizarro-Noël, somos instigados a lembrar de Jorge Luiz Borges, que dizia que, uma vez publicada, a obra ganha vida própria.

Isso nos conduz imediatamente a um terceiro tipo de presença de Durkheim na história da sociologia, no qual situamos os três artigos seguintes deste dossiê. Referimo-nos aqui a um Durkheim "interlocutor" de teorias sociais, que tem sido constantemente atualizado e apropriado enquanto fonte de inspiração ou mesmo matéria-prima de sínteses teóricas originais. Nesse campo a obra durkheimiana deixa de ser objeto de investigação por partes de especialistas que buscam desvendar seus meandros e torna-se uma presença viva no debate intelectual. O que vemos aqui, sem dúvida, é uma "divisão do trabalho" - ainda que não intencional - em que a produção de novas teorias nutre-se das descobertas e interpretações produzidas por especialistas, conferindo a estas um sentido e um papel que transcende seu escopo imanente. É bem verdade, também, que a produção de novas teorias pressupõe um processo de deglutição das obras que lhe servem de inspiração, de modo que, muitas vezes, não mais as reconhecemos, depois de serem retraduzidas pela pena daqueles que desenham sua própria narrativa sobre a realidade social.

Em virtude dessa alquimia, é possível que Durkheim seja uma referência crucial para a obra de alguns dos mais importantes pensadores dos séculos XX e XXI, que não poderiam ser mais distantes entre si. Começando com um contemporâneo seu, podemos nomear primeiramente Sigmund Freud, cuja importância atravessou um século. Ainda que a lista não seja nem de longe exaustiva, podemos nomear apenas alguns dos sociólogos e teóricos que ainda se mantêm como dos mais influentes no cenário intelectual: Talcott Parsons, Marcel Mauss, Claude Lévi-Strauss, Jean Piaget, Michel Foucault, Pierre Bourdieu, Jürgen Habermas, Axel Honneth, Shmuel Eisenstadt, Hans Joas, Randall Collins, Peter Berger, Erving Goffmann, Alain Caillé, Luc Boltanski, etc. De forma mais ou menos crítica, a leitura da obra durkheimiana tem servido de inspiração para a elaboração de diferentes teorias e paradigmas, três dentre os quais apresentamos neste dossiê.

Há alguns anos, Serge Paugam vem trabalhando na elaboração do que chama de uma "teoria social do vínculo", apresentada no texto que integra este dossiê, a qual exemplifica com precisão esse tipo de movimento que acabamos de descrever. Partindo de uma revisão minuciosa da obra de Durkheim, Paugam retoma a questão central formulada pelo autor em Da Divisão do Trabalho, que interroga acerca da possibilidade de o indivíduo nutrir vínculos com a sociedade sem abdicar de sua autonomia. A partir disso, Paugam propõe uma distinção analítica entre lien e attachement, aqui traduzidos, respectivamente, como laço e vínculo, a qual lhe permite reconstruir os argumentos durkheimianos e elaborar uma tipologia que oferece importantes modelos explicativos das sociedades contemporâneas8 8 Para maiores informações sobre essa distinção, veja-se a nota de Andre Magnelli à tradução do artigo de Paugam. .

Ao ler os argumentos do autor, podemos identificar com muita clareza esse procedimento tão fértil que se coloca como base da produção da teoria social, que consiste em se apropriar da lógica e de conceitos formulados previamente, e reconstruí-los a partir da nova matéria-prima oferecida pelo tempo presente. Conforme o leitor terá ocasião de notar, Paugam atualiza Durkheim precisamente a partir de uma questão que, durante décadas, foi causa da recusa de sua pertinência: a malfadada questão do consenso. Para Durkheim, consenso nunca significou ausência de divergências, nem tampouco a ideia de que uma sociedade boa é aquela que não muda. Em sua releitura, Paugam volta a chamar a atenção para o fato de que os indivíduos efetivamente tendem a constituir laços específicos entre si, que dão origem a vínculos de diferentes naturezas e, para que seja possível a existência de um grupo ao qual vincular-se, é preciso que exista um consenso tão amplo quanto possível, ainda que não geral, em torno de um mínimo, que permita a articulação da diversidade constitutiva das sociedades contemporâneas.

Paulo Henrique Martins, por seu turno, oferece ao leitor uma discussão pormenorizada da importante obra de Alain Caillé. Interessa a Martins destacar como certos trabalhos de Durkheim e de alguns de seus colaboradores, Marcel Mauss em particular, permitiram a Caillé a elaboração de um paradigma (ou antiparadigma) centrado na noção da "dádiva". A afirmação de um paradigma novo implica ainda o movimento de recusa de outras abordagens vigentes, marcadas ora por um individualismo exacerbado, ora por um holismo não problematizado. Não se trata, contudo, de uma recusa categórica dessas outras correntes, mas de sua historicização (estes paradigmas são crias de uma modernidade e reféns de certos pontos de honra). Para Martins, é isso que permite a Caillé denunciar matrizes redutoras e propor meios de ampliar a investigação científica. Durkheim e os trabalhos da Escola Francesa de Sociologia são aqui tanto instância de inspiração quanto de superação. E há mais: não é Caillé quem inicia esse movimento. Ele já está presente, inclusive, na própria dinâmica desta escola, uma vez que a tese maussiana do "fato social total" implicaria, na leitura de Caillé, uma primeira revisão das ideias de Durkheim.

Este dossiê encerra-se com um artigo de Jeffrey Alexander, um dos mais importantes teóricos da sociologia contemporânea, e cuja trajetória ilustra com perfeição a presença de Durkheim como interlocutor relevante no campo da teoria social. A presença do sociólogo francês na obra de Alexander data da década de 1980, e é sobretudo a partir de sua crítica quanto à insuficiência da teoria da ação presente em Weber, Parsons e no "primeiro Durkheim" que ele se dedica a reinterpretar esse autor, defendo a recuperação de um "Durkheim maduro", cujo ápice encontra-se em As Formas Elementares da Vida Religiosa, e que coloca como questão sociológica fundamental a compreensão do que é o significado e como ele se produz e se comporta em um contexto social.

Este é o ponto de partida para a criação do que o autor chama de "programa forte" da sociologia cultural, o qual assume o domínio da cultura como investido de autonomia, independente dos elementos que constituem a estrutura social. No decorrer dos anos 2000, a sociologia de Alexander torna-se ainda mais complexa com a formulação de sua teoria sobre a esfera civil, cujo pano de fundo é a intenção explicativa e normativa de conciliar individualidade e solidariedade que, como já vimos quando da discussão de Paugam, é uma questão notadamente durkheimiana. Em sua fase mais recente, o autor propõe uma nova atualização da teoria durkheimiana, embora de forma menos explícita, na qual a noção de ritual é central para a elaboração de sua própria noção de performance e de drama, que propõe um novo olhar sobre a vida social, permitindo compreender as tensões da vida contemporânea e elaborar uma teoria própria acerca da política e dos movimentos sociais.

Todos esses temas aparecem de forma mais ou menos evidente no texto aqui apresentado, no qual vemos a escrita de um autor comprometido em fazer o diagnóstico crítico de seu tempo sem, em momento algum, abrir mão de uma rigorosa mobilização de categorias sociológicas. Aqui, vemos todo seu arcabouço teórico a serviço da problematização de movimentos sociais bastante concretos, que dialoga com a análise da narrativa de Martin Luther King apresentada em The Civil Sphere (Alexander, 20083 ALEXANDER, J.C. The Civil Sphere. Oxford: Oxford University Press, 2008.). Conforme Alexander explicita em seu artigo, o pano de fundo teórico é o que chama de teoria da performance, a qual pretende compreender os conflitos sociais para além dos limites estabelecidos pelo materialismo marxista e pela teoria da ação weberiana, na medida em que enfatiza a dimensão pragmática e simbólica dos rituais enquanto performances. Em outros termos, o autor compreende os próprios protestos sociais como performances que têm como efeito produzir uma narrativa capaz de transformar a vida coletiva a partir da construção de novas narrativas e práticas. É isso que esteve em jogo com Martin Luther King e se coloca novamente como desafio para o Black Lives Matter, movimento que tem promovido a construção de novos sujeitos políticos que alteram o cenário da vida coletiva.

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O percurso que traçamos aqui é, antes de tudo, um convite a refletir sobre as narrativas que compõem as "representações coletivas" acerca de nossa própria história. Ousaríamos mesmo dizer que esse diálogo crítico com a tradição é um elemento sine qua non para o desenvolvimento da autonomia intelectual. Afinal, na medida em que a sociologia consagra certo número de autores como "clássicos", ela estabelece um conjunto de temas e conceitos que são lidos e interpretados das mais diferentes formas, mas partindo de alguns pontos compartilhados. Ao dominar esse vocabulário comum, temos cada vez mais ferramentas que nos permitem decifrar o debate contemporâneo e até mesmo ter voz ativa nele.

Com isso, compreende-se que nenhum dos mais brilhantes autores e autoras inventaram seu sistema de pensamento a partir de bases completamente autônomas. A originalidade de cada um e de cada uma resulta, em ampla medida, da peculiaridade do ponto a partir do qual lança seu olhar para a tradição da teoria social e, diante de sua insuficiência para elucidar determinado aspecto da realidade, elabora soluções novas. Revisitar os textos de Durkheim e aqueles que dialogaram com ele é um exercício contínuo de reflexividade, que diz algo sobre o passado, e muito sobre o presente, tal como é muito bem expresso por Jeffrey Alexander e Philip Smith no trecho a seguir, com o qual permitimo-nos concluir esta apresentação:

Quando a obra de um autor tem um poder que perdura para além de seu contexto imediato, sendo esta a qualidade que distingue uma contribuição realmente grandiosa, algo muito mais intrigante acontece. Há uma proliferação de leituras de forma não pretendida, não esperada. (...) Novos contextos interpretativos reescrevem os textos como se fossem seus autores, e teorias são recontadas em virtude de sua relevância atual. Depois, essas intervenções são retrabalhadas e repensadas. Eventualmente um campo cheio de camadas de uma intensa atividade dialógica formada por ideias, palavras, suas estruturas subjacentes de sentimentos e escolhas analíticas se acumulam e aderem a essa pedra angular. É precisamente este acréscimo de complexidade e controvérsia que marca o domínio de investigação de um grande teórico. Porque os textos fundacionais e seus comentários subsequentes devem ser entendidos como fatos sociais, bem como prática hermenêutica, devemos prestar a devida atenção tanto à intenção dos autores quanto a seu contexto intelectual. Ao indagar sobre Durkheim e seu legado, estamos lidando também com outros autores. Isso diz respeito menos às preocupações de outras épocas, e mais àquelas de nosso próprio tempo". (Smith; Alexander, 20052 ALEXANDER, J.C.; SMITH, P. The Cambridge companion to Durkheim. Cambridge: Cambridge University Press, 2005., p. I)

Referências

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  • 1
    A causa exata da morte de Durkheim permanece desconhecida; no entanto, para uma discussão detalhada sobre as circunstâncias que a envolvem e as várias explicações aventadas, veja-se o artigo de William Pickering (2008) a este respeito.
  • 2
    Para uma discussão detalhada acerca da atuação de Durkheim no caso Dreyfus veja-se o Volume 1 da Coleção Biblioteca Durkheimiana (Durkheim, 2016)
  • 3
    Ver Mucchielli, 1998 e, para um resumo em português desta obra, Mucchielli, 2001.
  • 4
    Não há como separar a história das ciências sociais na França de empreendimentos institucionais como o Institut Français d'Anthropologie e o Institut d`Ethnologie, e revistas como a Revue Philosophique e a Revue de Psychologie. Para uma visão abrangente, veja-se os trabalhos de Cristophe Charle (2012, 2013) e de Karady (1988).
  • 5
    Para uma análise da trajetória de Durkheim no Brasil, desde a década de 1900 até o presente, veja-se o artigo de Márcio de Oliveira e Raquel Weiss (no prelo), "La trajectoire de l'œuvre durkheimienne au Brésil", no dossier sobre os 100 anos do autor, organizado por Serge Paugam na Revue Sociologies).
  • 6
    O que não significa, bem entendido, que não tenha havido alterações estruturais no lugar da sociologia. Cf. Heilbron, 1985
  • 7
    Os trabalhos aqui são muito numerosos, mas cabe indicar alguns dos que enfrentam mais diretamente essa questão da reconstrução da imagem do autor: Alexander, 1990; Alexander; Smith, 2005; Besnard, 1976a, 1976b, 1981; Jones, 2001; Lukes, 1973; Miller, 1996; Pickering, 2002, 2009; Rosati; Santambrogio; Alexander, 2002; Steiner, 2005.
  • 8
    Para maiores informações sobre essa distinção, veja-se a nota de Andre Magnelli à tradução do artigo de Paugam.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2017

Histórico

  • Recebido
    18 Jan 2017
  • Aceito
    30 Jan 2017
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